Flashback


Mais uma pérola da era do 16bit, Flashback é uma aventura de plataformas com uma história cativante, ao nível dos grandes clássicos do cinema de ficção-científica estilo film noir como o Blade Runner ou Dark City, piscando assim o olho a um público mais adulto.

Recentemente encontrei a minha cópia para a Megadrive deste jogo (quando nem sequer o procurava como é costume) e resolvi rejogá-lo, visto que a última vez que o fiz foi há uns anos valentes e lembro-me que o adorei na altura, mas será que envelheceu bem?

Lançado em 1992 para a Amiga, o sucesso que obteve principalmente junto da crítica especializada levou a que fossem criadas ports para outros sistemas como PC (DOS), Megadrive e Super Nintendo.  Foi ainda remasterizado em CD-Rom, para outros sistemas como o Macintosh, Atari Jaguar e SegaCD, introduzindo novas cutscenes, maior detalhe nos gráficos (principalmente nas sequências Full Motion Video) e a introdução de áudio nos diálogos.

História

Muitas vezes confundido como uma sequela não oficial de Another World devido às grandes semelhanças em termos de jogabilidade e algumas em relação ao grafismo e por ambas terem sido lançados pela Delphine Software. No entanto tal facto nunca foi reconhecido pela mesma e as histórias são completamente distintas, não tendo assim qualquer cabimento este rumor, embora seja também um jogo interessante, na minha opinião é inferior ao Flashback.

A cutscene inicial deixou-me mais uma vez preso na teia da história fantástica do jogo, não divulga muita informação, o que aumenta logo desde o início o suspense e mistério em volta da nossa personagem – Conrad B. Hart – que é visto nesta sequência a fugir de homens que o perseguem dentro de uma instalação à qual ele consegue escapar através de um veículo voador, que é no entanto abatido em pleno voo, caindo no meio da floresta. Em seguida começa a nossa aventura pela busca da identidade de Conrad, que até ele próprio desconhece, como iremos descobrir mais tarde. Para vos explicar melhor a história vou avançar um pouco, sem no entanto revelar demais, pois o grande aliciante neste jogo é o próprio mistério que paira sobre a personagem e o meio onde se insere.

O ano é 2142 e coloca-nos na pele de um agente de uma espécie de FBI futurístico que opera a nível galáctico, que tenta recuperar de uma amnésia que o fez perder todas as memórias até sobre a sua própria identidade. Conrad tropeça sobre uma conspiração alienígena para destruir a Terra, envolvendo uma raça que consegue moldar o seu corpo, assumindo assim a forma de humanos que se infiltraram na sociedade e o tentam deter na sua investigação. Conrad antevendo a sua captura iminente e limpeza cerebral, guarda as suas memórias e todo o conhecimento do plano destes ET’s num holocubo, acontecimento que precisamente se dá mais tarde, dando assim o mote à história da busca pela sua identidade e descoberta do plano que ele próprio havia desvendado e que agora vai ter que deter. Posto este pequeno “flashback” sobre a história, voltamos ao início do jogo onde Conrad se encontra perdido na floresta de Titan (uma das luas de Saturno), onde a nossa primeira descoberta logo na cena inicial será o próprio holocubo que revela um holograma dele próprio fornecendo-lhe instruções para encontrar Ian, o seu amigo que o ajudara a gravar este aparelho e a única pessoa que poderá devolver-lhe as memórias.

Intrigado para saberes o que se passa a seguir? Só jogando mesmo poderás desfrutar ao máximo como eu o fiz, esta aventura irá levar Conrad a cenários tão diversos como florestas, cidades, zonas subterrâneas, entre outros. Irás também passar por situações totalmente inovadoras neste género de jogo que ajudam a evitar a monotonia e a linearidade da história, como por exemplo quando Ian te diz que a única forma de voltares à Terra é sendo vencedor de um concurso televisivo cujo prémio é precisamente um bilhete para o planeta azul, mas para participares precisas de dinheiro, que vais ter que reunir procurando empregos no metro de New Washington.

Sistema de Jogo

Os controlos do jogo suscitam reacções completamente radicais – ou se detesta ou se adora – no entanto o que ocorre normalmente é que primeiro estranha-se e depois entranha-se, embora pareçam complicados ou que não respondem bem ao que se pretende fazer, os controlos do jogo são complexos, usando um maior número de combinações de botões do que é normal para um jogo de plataformas, o que leva a que depois de dominados torne a jogabilidade extremamente viciante. Mesmo assim prepara-te para uns bons momentos de frustração quando tentas vezes sem conta saltar e correr para alcançar uma plataforma, ou correr e rebolar para depois disparares, fugir e voltares a saltar para outra plataforma enquanto és perseguido, mas digo-te uma coisa quando conseguires dominar isto tudo a adrenalina vai ser tal que não consegues largar o comando. Existe total liberdade de movimentos, tornando a acção suave, rápida e natural, baseando-se sobretudo no estilo de jogo de Prince of Persia II, mas bastante mais complexo.

Os diferentes cenários e a crescente liberdade de movimentos que o jogador experiencia ao avançar na história, nomeadamente quando se chega às grandes cidades onde se pode inclusive utilizar os transportes públicos para movimentar entre as diversas zonas. Tem-se ainda em mãos uma série de puzzles para resolver, mas os verdadeiros desafios do jogo serão sobretudo as peripécias com que nos deparamos que envolvem o controlo absoluto dos movimentos da personagem e destreza nos dedos.

Em suma, não é um jogo para qualquer um, principalmente para aqueles não habituados a jogos de plataforma, mas mesmo esses encontraram certamente momentos de frustração em algumas cenas, pois a acção constante e resposta rápida de movimentos são o grande ponto forte da jogabilidade.

Gráficos

O aspecto do jogo é fantástico não só para a altura mas ainda hoje é um prazer desfrutar dos cenários desenhados ao pormenor e do detalhe das personagens e animações, é verdade que as cutscenes em FMV, apesar de fluídas na versão original da Amiga arrastam-se um pouco na Megadrive, o que é compreensível pois afinal estamos na presença de uma port para outro sistema. No desenho do grafismo de Flashback, foi utilizada uma técnica pioneira nos videojogos na altura, chamada rotoscoping que era uma técnica usada sobretudo nos antigos filmes animados da Disney que consiste em usar cenas retiradas de filmagens com actores reais e depois recalca-las directamente à mão, frame por frame, sobre uma máquina especial para o efeito, trazendo assim maior detalhe e fluidez nos movimentos das personagens. Hoje em dia, tudo isto foi obvia e naturalmente substituído pelos novos softwares de animação disponíveis, mas sendo eu – como vocês naturalmente – um retrogamer, não há nada como um 2D bem desenhado com inúmeros e bem distintos cenários por explorar.

Som

Mais uma vez nota-se a qualidade perdida na transição entre a Amiga e a Megadrive, no entanto os efeitos juntamente com as músicas são bastante bons, com uma batida cativante e agradável principalmente nas cenas com maior acção em que precisas de estar totalmente concentrado nos movimentos da personagem, uma boa música é essencial para manter os níveis de adrenalina no máximo e é exactamente isso que o jogo consegue. Para terem uma ideia, a banda sonora é tão marcante que foi lançado um CD duplo com músicas do jogo ou inspiradas nele.

Veredicto

Sem dúvida Flashback é um jogo fora de série, no geral tem tudo para fazer um bom jogo, uma excelente história, jogabilidade complexa e atractiva, gráficos e animações fluídas e efeitos sonoros que dão o toque final de mestre nesta obra de arte dos videojogos.  Certamente que tem algumas falhas, nomeadamente a repetição das batalhas com os inimigos (envolvendo sempre uma combinação entre tiros e escudo) que pode cansar após algumas horas e a dificuldade do jogo, que é bastante elevada, mas também sejamos realistas se gostas de jogos antigos então é porque gostas de perder muitas horas em algo que realmente é um desafio para ti.

Em suma, se gostas de um estilo de jogo próximo de Prince of Persia e és fã de aventuras e histórias de ficção científica então não podes perder a oportunidade de experimentar este jogo.

NOTA: 18/20

Deixo-vos por fim com um excerto do jogo em que podem inclusive comparar a versão da amiga com a da Megadrive.

~ por eckhartaldegar em Segunda-feira, 26 \26\+00:00 Abril, 2010.

4 Respostas to “Flashback”

  1. Epah eu axo que rotoscoping não é o que dizes no artigo…pelo que li na wikipedia fiquei com a ideia de que rotoscoping quer dizer que filmaram os movimentos de um actor real, e depois desenharam a mão frame a frame o que tinham filmado, dai o maior realismo.

  2. Por acaso este não conhecia… Mas faz-me lembrar um jogo que também me fartava de viciar: Robocop 3! xD

    Cumps!

    • Realmente este jogo não se tornou muito conhecido cá em Portugal apesar do sucesso lá fora, mas espero que a minha crítica tenha servido de mote para o experimentares, porque é sem dúvida um grande jogo.

Deixe um comentário